A edição que apresentamos ao leitor reúne três contos memoráveis: “O Caso da Vara” (1891), “Pai Contra Mãe” (1906) e “Mariana” (1871). São textos comumente incluídos no que se denomina “Contos da Escravidão”, em que o autor aborda, ora de forma explícita, ora utilizando-se de característica ironia, a sua barbárie.
O conto de abertura, um dos mais conhecidos do autor, narra a história do jovem Damião, que foge do seminário e se abriga na casa de Sinhá Rita. Mas é em torno de Lucrécia, a menina feita de escrava, que o autor expõe sua denúncia.
Sinhá Rita tinha quarenta anos na certidão de batismo, e vinte e sete nos olhos. Era apessoada, viva, patusca, amiga de rir; mas, quando convinha, brava como diabo. Quis alegrar o rapaz, e, apesar da situação, não lhe custou muito. Dentro de pouco, ambos eles riam, ela contava-lhe anedotas, e pedia-lhe outras, que ele referia com singular graça. Uma destas, estúrdia, obrigada a trejeitos, fez rir a uma das crias de Sinhá Rita, que esquecera o trabalho, para mirar e escutar o moço. Sinhá Rita pegou de uma vara que estava ao pé da marquesa, e ameaçou-a:
– Lucrécia, olha a vara!
Para esta publicação, contamos com o prefácio e ensaio de Carlos Lopes, diretor de redação da Hora do Povo, para quem os três contos dessa coletânea “são uma demonstração magistral, técnica e humana (se é possível técnica sem uma profunda humanidade), desse conteúdo social e político, que então abalava o império e o escravismo”.
“O Caso da Vara”, foi publicado originalmente na Gazeta de Notícias (1891), e publicado na edição de Páginas Recolhidas, em 1899, pela Editora H. Garnier. O segundo conto da coletânea, “Pai contra mãe”, foi publicado no livro Relíquias de Casa Velha, em 1906, também pela H. Garnier. Ambos os textos foram cotejados com a publicação no portal “Domínio Público”. O terceiro conto, Mariana, foi apresentado originalmente no Jornal das Famílias, também publicado pela Garnier, em 1871, e o cotejo para essa edição foi realizado com a publicação no Portal Literafro, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Além do prefácio, incluímos a análise Machado de Assis e a luta pelo fim da escravatura, publicado em 13 de maio de 2016. O texto traz a relação entre o escritor e a luta pela abolição. Segundo Carlos Lopes, foram muitas as contribuições de Machado pelo fim da escravidão, e a principal delas “esteve, naturalmente, em ser Machado de Assis”.